quinta-feira, 14 de julho de 2016

Oi deve R$ 158 milhões a pequenas empresas


BRASÍLIA - Quase 20% dos 13 mil credores da Oi são micro e pequenas empresas, segundo lista anexada pela operadora de telefonia no processo de recuperação judicial que está no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. De acordo com um levantamento realizado pelo Sebrae e repassado ao GLOBO com exclusividade, o impacto da dívida nessas empresas é de R$ 158 milhões.

Ainda segundo o Sebrae, a dívida da tele com os micro e pequenos empresários pode prejudicar a sobrevivência dos negócios, cujo faturamento anual, por lei, não ultrapassa R$ 3,6 milhões. Esse cenário levou a instituição a enviar uma carta a cada um dos credores dizendo que eles não estão sozinhos e que podem se beneficiar do projeto Recupera MPE, desenvolvido em parceria com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

— Aproveitamos a crise da Oi para criar procedimentos de atendimento gratuito aos nossos clientes, que poderão ser utilizados em qualquer caso de recuperação judicial ou falência. Eles estão amparados pela Lei 147/14, que promoveu mudanças no Simples Nacional e garantiu o tratamento diferenciado nessas situações judiciais ao segmento — explicou o presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos.

O Recupera MPE foi criado há dois anos, mas será usado pela primeira vez com a crise da Oi. De forma geral, disse Afif, os empresários desconhecem esse direito.
Ele explicou que o Recupera MPE tem uma lista de ações para atender os 2.214 proprietários de micro e pequenas empresas que têm créditos com a Oi.
Também será aberto um diálogo com os dirigentes da empresa, a fim de discutir medidas para preservar a continuidade delas no mercado, por exemplo, com a preferência no pagamento dos créditos.

Pela legislação em vigor, os pequenos negócios ganharam o direito de pedir recuperação judicial e voz na aprovação dos planos de recuperação. A lei determina que as empresas que se encontram nessa situação devem divulgar uma lista com o nome de todos os credores, incluindo aqueles que ainda não estão com dívidas vencidas, e valores devidos.

— Os donos de pequenos negócios devem ficar atentos a essa publicação, verificar se seu nome está lista e se os valores estão corretos — recomendou o presidente do Sebrae.
Ele enfatizou que, caso a empresa não esteja discriminada ou os dados estejam incorretos, os donos de pequenos negócios devem apresentar em até 15 dias documentação que comprove o saldo devedor e o porte da empresa:
— Recomendamos que os empresários nos procurem e contratem um advogado.

SEM PAGAMENTO, 60 DIAS DEPOIS
Riberto Nunes tem uma empresa de refrigeração em São Paulo e é um dos credores da Oi. Só na semana passada, vendeu mais de R$ 60 mil para a tele, mas tem a receber, oficialmente, R$ 25 mil, importância que não foi quitada após mais de 60 dias da emissão da nota fiscal.
Nunes disse que, se a Oi não quitar os débitos, sua empresa será prejudicada. Para garantir o recebimento, ele afirmou estar disposto a acionar judicialmente a concessionária.
— Desde o dia 20 de junho a Oi não nos dá uma única informação, sobre como e quando vai nos pagar — queixou-se.

Procurada, a Oi disse que não vai se manifestar.
PACIÊNCIA É A RECEITA PARA INVESTIDOR
Assumir e travar as perdas, sacando o dinheiro, ou torcer e esperar pela recuperação, deixando a aplicação como está? A questão cruza a cabeça dos 420 mil cotistas de fundos de investimento que tiveram a rentabilidade de suas aplicações afetada pelo pedido de recuperação judicial da Oi. Para especialistas em finanças pessoais, não adianta correr agora, mas o susto deve servir para buscar entender mais o mundo dos investimentos.

O consultor financeiro André Massaro não vê com entusiamo uma saída destas aplicações:
— Dificilmente o investidor consegue sair em boas condições neste momento, seja resgatando o dinheiro ou pressionando o gestor para se livrar das debêntures (títulos de dívida), pois a pressão de venda só agrava a desvalorização. Mas, se o fundo é bem diversificado, se tem títulos de várias empresas, um eventual calote provoca no máximo uma perda temporária ou prejuízo à rentabilidade.

Os bancos afirmam que, apesar do impacto, o resultado das aplicações em junho foi positivo.
Especialista em investimento do banco Ouroinvest, Mauro Calil recomenda o saque só no caso de investidores que contam com o dinheiro para a aposentadoria ou quando a aplicação represente a maior parte do patrimônio investido.

Diretora do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiro (IBCPF), Marcia Dessen lamenta que investidores sofram por desconhecimento:

— Os cotistas desses fundos de renda fixa aprenderam do jeito mais difícil o que é o risco de crédito: a possibilidade de o emissor de um título deixar de resgatar ou pagar juros do título.

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1 DE ABRIL