Campanha de Temer pagou R$ 1,98
mi a cliente do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha
O
comitê da campanha de Michel Temer (PMDB) à Vice-presidência da República em
2014 pagou quase R$ 2 milhões a uma gráfica cujo proprietário é cliente do
escritório de advocacia do ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha. Na
época, Padilha era deputado federal e integrava a coordenação nacional do
PMDB na eleição presidencial.
A Noschang Artes Gráficas tem sede em Tramandaí,
no litoral do Rio Grande do Sul, cidade onde Padilha foi
prefeito entre 1989 e 1992. O proprietário da empresa é Paulo Noschang.
Noschang contratou
o escritório de Padilha em 2011 para se defender das acusações feitas por
autoridades gaúchas de que ele faria parte de um esquema de desvio de verbas
destinadas à educação após a deflagração da Operação Cartola. Em
2015, Noschang foi julgado e considerado inocente.
Documentos
disponibilizados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) referentes à prestação
de contas de 2014 do comitê de campanha de Temer mostram que houve 39
pagamentos à empresa de Paulo Noschang entre 7 de agosto e 17 de
outubro de 2014. Somados, eles totalizam R$ 1.988.716,00 (66% de tudo o que a
empresa recebeu em 2014 por serviços prestados a campanhas eleitorais).
Em
apenas dois anos (2014 e 2015), a Noschang recebeu ao menos R$ 2,839
milhões do comitê de campanha de Temer e da FUG.
Para o
secretário-geral da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco, tanto
Temer quanto Padilha precisam explicar em que circunstâncias uma empresa tão
próxima ao ministro da Casa Civil foi escolhida pela campanha de Temer.
"O
ideal é que esse tipo de proximidade entre contratante e contratado não
existisse, mas, como se tratam de duas figuras públicas do peso de Temer e
Padilha, acho que eles precisam explicar essa relação. Quanto mais
transparência nessa relação, melhor", afirmou.
Eliseu
Padilha afirmou, por meio de sua assessoria, que não sabia que a empresa
de seu cliente havia sido contratada pela campanha de Temer. Os advogados
responsáveis pelas contas de campanha de Temer disseram que os pagamentos
feitos pelo comitê do presidente à gráfica do cliente de Padilha "não são
alvos de questionamentos" judiciais.
Despesas separadas
Apesar
de fazerem parte de uma chapa única, Michel Temer e a então candidata à
reeleição, Dilma Rousseff (PT), tinham comitês de campanha que administravam
seus recursos de forma independente, inclusive com
dois CNPJs (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) e contas bancárias
diferenciadas.
A maior parte dos repasses do comitê de Temer à
Noschang foi feita para pagar despesas de outros candidatos, como
mostra a nota fiscal nº 13.672 emitida no dia 16 de outubro de 2014 no valor de
R$ 238.080. De acordo com a nota, o valor repassado pelo comitê de Temer à Noschang
Artes Gráficas pagou por cartões do tipo "colinha" para candidatos a
deputado estadual e federal do Rio Grande do Sul.
Os
documentos do TSE também mostram que pessoas próximas a Padilha, como a
coordenadora nacional do programa de formação à distância da FUG, Elisiane da
Silva, atuaram diretamente na liberação de pagamentos para a empresa de Paulo
Noschang durante a campanha de Temer à Vice-presidência.
Além de
ter sido subordinada de Padilha durante o período em que o ministro presidiu a
FUG, Elisiane é sócia de Simone Camargo, mulher dele, na empresa Amanhecer
Empreendimentos. A sede da Amanhecer fica em Porto Alegre, no mesmo prédio
onde funciona o escritório de advocacia de Padilha e sua mulher.
Contas sob investigação
Segundo
o TSE, a campanha de Dilma gastou R$ 350 milhões. Os dados totais referentes
aos gastos feitos pelo comitê de campanha de Michel Temer e de outros
candidatos a vice-presidente em 2014 não estão disponíveis no sistema de
prestação de contas do tribunal.
Reprodução/Facebook.com
O
empresário gaúcho Paulo Noschang, cliente do escritório de advocacia do
ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha
Eliseu
Padilha e Simone Camargo, sua mulher
Outro lado
Questionado
sobre sua proximidade com o empresário Paulo Noschang e os contratos que o PMDB
firmou com comitê de campanha de Temer, o ministro da Casa Civil, Eliseu
Padilha, disse, por meio de sua assessoria de imprensa, não ter
influenciado na escolha da empresa de seu cliente durante as eleições de 2014.
"Não recomendou. O então deputado federal, Eliseu Padilha, integrava a
coordenação nacional da eleição presidencial e dava expediente no Comitê
Central em Brasília", disse um trecho da resposta enviada por sua equipe.
Em
outro trecho, a assessoria diz que Padilha não sabia que a Noschang Artes
Gráficas havia sido contratada pelo partido. "Não tinha conhecimento.
Eliseu Padilha não sabe do PMDB ter contratado gráfica na eleição presidencial.
O sócio da mencionada gráfica é cliente de escritório de advocacia do qual
Eliseu Padilha é um dos sócios e está afastado de sua gestão e do exercício da
advocacia", afirmou.
Questionado
sobre se Padilha vê algum impedimento "ético ou moral" no fato de o
PMDB ter contratado uma empresa cujo proprietário é um de seus clientes, o
ministro, por meio de sua assessoria de imprensa, foi sucinto.
"Nenhum!", respondeu.
A reportagem do UOL telefonou,
no dia 3 de novembro, para a FUG em Porto Alegre,
onde Elisiane trabalha, para solicitar esclarecimentos sobre sua
atuação durante a campanha, mas foi informada de que ela não estava no local.
Até o encerramento desta reportagem, Elisiane não respondeu ao recado
deixado pela reportagem.
No dia 14 de outubro, a reportagem do UOL enviou um e-mail para a assessoria de
imprensa do PMDB questionando sobre os critérios que levaram o partido a
contratar a Noschang Artes Gráficas para produzir material de campanha pago com
recursos do comitê de Michel Temer.
No
mesmo dia, a reportagem telefonou para a assessoria, que confirmou o
recebimento do e-mail. Entre os dias 31 e 3, a reportagem voltou a ligar para a
assessoria do PMDB, mas as chamadas não forma atendidas.
Questionado
sobre como sua empresa foi contratada pelo PMDB com recursos do comitê de
campanha de Temer, o empresário Paulo Noschang disse, por e-mail, que
"todo o serviço" prestado por ele "é público e está no site do
TSE". Perguntado sobre quem era o seu "contato" junto à direção
do PMDB, Noschang não respondeu.
O
escritório Bonini Guedes Advocacia, que faz a defesa de Temer na ação movida pelo
PSDB junto ao TSE e que questiona a origem dos recursos que financiaram a
campanha da chapa Dilma/Temer em 2014, disse, também por e-mail, que "não
há questionamentos a respeito" dos pagamentos feitos pelo comitê de
campanha de Temer à Noschang Artes Gráficas e que as "perguntas [enviadas
pela reportagem] devem ser direcionadas aos envolvidos".
A
Secretaria de Imprensa da Presidência, que responde pelo presidente da
República, Michel Temer, disse que o órgão "somente pode responder a
demandas que digam respeito ao exercício do mandato atual do senhor Presidente
da República".
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